SAÚDE DA MULHER -Tratamento que pode curar o câncer de mama está disponível no SUS
Especialistas afirmam que falta de informação e diagnóstico tardio são as principais causas da alta mortalidade no Brasil
Muito evoluiu no tratamento do câncer nos últimos anos. No entanto, a falta de prevenção, pouca informação ao paciente e detecção tardia ainda fazem com que o número de mortes em decorrência da doença seja muito elevado nos países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil.
Prova disso é a grande taxa de mortalidade nos casos de câncer de mama no país – uma doença que, se detectada em estágio inicial, tem altíssimas chances de cura. Estima-se que cerca de 57 mil pacientes sejam diagnosticados com a doença todos os anos (INCA, 2014) e que mais de 13 mil não sobrevivam (Sistema de Informação sobre Mortalidade – SIM, 2011).
“O índice de mortalidade é maior na América Latina justamente porque o diagnóstico é tardio. Detectar a doença precocemente é de extrema importância, e a maior parte dos cânceres pode ser diagnosticada com antecedência, elevando muito o índice de cura”, afirma a Dra. Luciana Preger, gerente médica da área de oncologia da farmacêutica Roche.
Já de acordo com Ignacio Zervino, diretor de Relações Institucionais da Fundação Aciapo (Organização Não-Governamental baseada na Argentina que tem como objetivo melhorar a vida dos pacientes oncológicos), grande parte da população que depende do sistema público de saúde na América Latina desconhece seus direitos e opções de tratamento. “Muitas vezes, o paciente deixa de iniciar o tratamento porque não entendeu o que o médico lhe disse na consulta, não tem ninguém para orientá-lo e não sabe nem por onde começar”, afirma.
Tratamento do câncer de mama no SUS
No caso específico do carcinoma mamário, o tratamento que pode levar à cura da doença e ajudar a reduzir os casos de morte está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS). Trata-se de uma terapia-alvo que ataca um tipo específico de câncer de mama, o HER2 positivo, que representa até 25% dos casos do câncer de mama, segundo dados da Sociedade Brasileira de Mastologia. As chances de cura são de 85%.
O que é HER2?
Após investigar por que algumas pessoas respondem melhor ao tratamento do câncer do que outras, cientistas descobriram que certos pacientes possuem características únicas em suas células cancerígenas, que as tornam mais resistentes à terapia comum (como a quimioterapia, por exemplo), e, por isso, não reagem de maneira positiva a este tipo de tratamento.
No caso do câncer de mama, foram identificadas algumas características (denominadas marcadores), sendo uma delas o HER2. Trata-se de uma proteína presente na membrana das células cancerígenas (mais agressiva do que outras) que é encontrada em abundância em alguns pacientes. Quando há esse excesso de HER2, fica determinado que o câncer de mama é do tipo HER2 positivo.
A partir desta informação, foi desenvolvida uma droga capaz de atacar especificamente esta proteína (ou seja, uma terapia-alvo), que se mostrou mais eficaz do que o tratamento comum e gerou menos efeitos colaterais. Atualmente, o único marcador passível de tratamento nos casos de câncer de mama é o HER2. Para os outros tipos, a terapia comum é a mais indicada.
Como funciona o tratamento?
Segundo explica a Dra. Preger, o procedimento para tratar o câncer de mama HER2 positivo acontece da seguinte forma: primeiro, a paciente é diagnosticada com o câncer de mama. Em seguida, ela passa por um exame para identificar se o subtipo da doença é HER2 positivo. “Para descobrir isso, existem dois tipos de teste. O primeiro, mais simples, é a Imuno-Histoquímica. Se o resultado é muito positivo, fica definido que a mulher é HER2 e vai receber a terapia-alvo. Se for negativo, ela será tratada pelo método comum. Se for indefinido, ela deve passar por outro teste [Hibridização in Situ por Fluorescência], que tira a dúvida”, esclarece a especialista. De acordo com ela, o primeiro exame está disponível na rede pública, mas o segundo não. Porém, ele é doado por laboratórios como a Roche, viabilizando o diagnóstico preciso de muitas mulheres.
Se for identificado o marcador HER2, a paciente inicia o tratamento com a terapia-alvo, que, neste caso, consiste em um medicamento (disponível no SUS para os casos de detecção precoce) que “procura” as células que contêm a proteína e age diretamente sobre elas, ao invés de atacar todas as células sem distinção, como ocorre em outros tipos de tratamento oncológico.
A terapia-alvo pode ser utilizada em forma de monoterapia ou associada à quimioterapiacomum. Além da maior chance de cura e eventos adversos reduzidos, ela tem o objetivo de poupar o paciente de receber um tratamento invasivo e até prejudicial que não irá funcionar para o seu caso.
*A repórter Marianna Feiteiro viajou entre 16 e 18 de julho de 2014 a Guadalajara, no México, a convite da Roche Brasil para evento para jornalistas da América Latina com objetivo de discutir os avanços da saúde na região, inovação e biotecnologia.
por Marianna Feiteiro